sábado, 8 de janeiro de 2011

Pesquisadores desenvolvem técnicas sofisticadas para obter soro contra o veneno de abelhas


Recém-patenteado, o medicamento está previsto para chegar à rede pública de saúde em 2012.


Dez anos atrás, técnicos do Ministério da Saúde assustaram-se ao contar 15 mil casos anuais de pessoas atacadas por abelhas, vespas e formigas no país – número bem próximo ao de acidentes com cobras. De maneira geral, as picadas de abelha causam apenas dor, inchaço e coceira, mas podem provocar lesões nos rins e no coração, dependendo da quantidade de ferroadas, e até matar, quando a vítima é alérgica. Na época, o ministério encomendou um medicamento que pudesse neutralizar os efeitos do veneno injetado pelas abelhas africanizadas – as mais agressivas entre as espécies existentes no Brasil (as nativas não têm ferrão, portanto, não picam). O projeto, envolvendo pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Butantan, SP, deu resultados. O soro foi desenvolvido e patenteado no primeiro semestre deste ano. A técnica empregada – proteômica – só foi possível porque a equipe contou com equipamentos sofisticados para montar o laboratório de imunologia, avaliado em 5 milhões de reais, em Rio Claro, SP.

Os pesquisadores identificaram 250 proteínas no veneno. Destas, mais de 40 nunca haviam sido descritas. A partir de então, eles buscaram entender sua atuação ao aplicá-las sobre culturas de células de órgãos (rins e fígados) e injetando-as em camundongos. Depois, repetiram o procedimento usando o veneno em sua forma total. Ao comparar os efeitos, eles agruparam as proteínas em sete grandes sistemas de atuação. Cinco deles estão relacionados a processos que ocorrem no corpo da vítima, como o desencadeamento de processos alérgicos e inflamatórios. Outros dois dizem respeito a modificações que acontecem no corpo do inseto após o veneno ter sido produzido. “Foi esse extenso mapeamento que possibilitou o caminho para a produção do soro“, explica Mário Palma, da Unesp, que coordenou o projeto. O produto só estará disponível para a rede de saúde pública em 2012.

A descoberta do soro surge na mesma instituição, 54 anos depois, de um experimento liderado pelo cientista Warwick Kerr que fugiu de seu controle. Ele trouxe da África algumas colmeias de Apis mellifera scutellata, famosa por sua agressividade. Durante o manejo, cerca de 30 rainhas escaparam. Seus descendentes cruzaram com espécies europeias (Apis mellifera mellifera) que já viviam aqui, e esses insetos se espalharam do Uruguai aos Estados Unidos, ferroando animais domésticos e seres humanos. Agora, os moradores das zonas rurais podem ter o melhor da apicultura – alta produção de mel e polinização das frutas – e um antídoto contra suas picadas.


fonte: globo rural

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