sábado, 4 de dezembro de 2010

O oráculo do Vale do Silício - III



Tim O’Reilly criou o primeiro site comercial, antecipou o movimento do software livre e trabalha com livros eletrônicos há mais de 20 anos. Sua vida é a prova de que podem acontecer coisas interessantes quando se trabalha por algo mais do que dinheiro

Em 2005, O’Reilly promoveu sua principal diretora financeira, Laura Baldwin, a diretora de operações e começou a abandonar as responsabilidades operacionais. Hoje ele passa a maior parte do tempo coletando informações — lendo blogs e páginas da web, checando o Twitter e fazendo reuniões com empresários. O’Reilly diz que seu processo é procurar padrões e imaginar o que dizem sobre o futuro. Então ele lança negócios: uma conferência ou uma nova linha de livros. Investe em novatas por intermédio de sua firma de capital de risco, a O’Reilly AlphaTech Ventures.

O’Reilly tem idade e dinheiro suficientes para pensar em se aposentar. Mas se vendesse a empresa hoje, não sabe exatamente o que faria. Uma vida que não inclui ajudar na construção da próxima ferrovia transcontinental não lhe parece muito interessante. “Quando imagino como seria, penso: ‘E então, o que eu faria?’”, ele diz. “Neste momento tenho esta ferramenta que posso usar para fazer coisas acontecerem. Se a vendesse, teria apenas dinheiro.”

O’Reilly lembra-se de um episódio de 1995, quando negociava a venda da GNN. Em uma reunião, um banqueiro o aconselhou a se concentrar menos na atividade interessante e mais no trabalho do tipo que gera dinheiro. “Você não pesca com morangos”, disse o banqueiro. “Mesmo que seja disso que você gosta, os peixes querem minhocas.” No início, O’Reilly aceitou o conselho. Quem pode discutir a ideia de que os clientes devem receber o que querem? Mas, ao pensar melhor, começou a ver as coisas de modo diferente. “Uma pequena voz dentro de mim dizia, com uma mistura de consternação, choque e crescente prazer: ‘Mas isso é exatamente o que sempre fizemos: pescar com morangos’. E funcionou!”

É difícil não ler essas palavras como uma parábola, destinada não apenas a sua pequena equipe de editores de livros, mas a qualquer pessoa nos negócios — talvez mesmo para qualquer uma que tenta encontrar seu caminho no mundo. “Buscamos encontrar o que é verdadeiro em nós mesmos... confiando que essa ressonância nos levará aos espíritos semelhantes no mundo, e eles a nós”, afirma O’Reilly. “Gosto de pensar que temos a capacidade de pescar com minhocas quando necessário, mas em geral somos agricultores, e não pescadores, e os morangos também funcionam.”

10 PERGUNTAS PARA TIM O’REILLY 1. QUAL É A SUA PARTE FAVORITA DO DIA?
Quando eu solto meus cavalos de manhã.

2. DE QUAL PARTE DO SEU TRABALHO O SENHOR GOSTARIA DE SE LIVRAR?
Revisões de desempenho. Eu não gosto da parte do boletim de notas.

3. QUAL FOI O MELHOR CONSELHO QUE O SENHOR RECEBEU?
Logo no início, um consultor em gestão me disse para montar um conselho de administração. Faz muito bem à disciplina ter que prestar satisfações a alguém — mesmo que você seja o único dono do negócio.

4. QUE HABILIDADE O SENHOR MAIS GOSTARIA DE MELHORAR?
Eu sou terrível quanto à pontualidade.

5. O QUE O DEIXA ACORDADO DE MADRUGADA?
Pensar em como construir uma empresa que sobreviva sem minha presença.

6. QUAL É O SEU MAIOR MEDO?
De estar errado. Não digo errado no sentido de cometer uma falha nos negócios, mas sim no sentido moral. Eu temo tomar uma decisão que machuque alguém.

7. QUAL É A SUA MAIOR EXTRAVAGÂNCIA?
Livros. Eu tenho cerca de 10 mil volumes. É equivalente ao tamanho de uma livraria de um cidadão nobre na era de Thomas Jefferson (ex-presidente dos Estados Unidos). Mas uma boa parte dos meus é edição normal, e não de capa dura.

8. QUAL É O SEU OBJETO MAIS AMADO?
Uma pedra do túmulo de Robert Louis Stevenson (autor de A Ilha do Tesouro e O Médico e o Monstro), que meu irmão me trouxe de Samoa.

9. SE O SENHOR TIVESSE QUE FAZER OUTRA COISA DA VIDA, O QUE SERIA?
Eu adoraria poder fazer algum trabalho físico todos os dias. Talvez como agricultor.

10. QUAL O TALENTO QUE O SENHOR GOSTARIA DE TER?
A habilidade de voar. Ou a de fazer saltos mortais. Ou a de cantar óperas.


Matéria : PEGN

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