sábado, 4 de dezembro de 2010

O oráculo do Vale do Silício -- II



Tim O’Reilly criou o primeiro site comercial, antecipou o movimento do software livre e trabalha com livros eletrônicos há mais de 20 anos. Sua vida é a prova de que podem acontecer coisas interessantes quando se trabalha por algo mais do que dinheiro.


Mentor de estrelas | Um dos maiores prazeres de O'Reilly é exercer seu poder de influência. À esquerda, uma cena no Foo Camp, um acampamento para geeks. À direita, ele com Jeff Bezos, fundador da AmazonO’Reilly começou a oferecer descontos para empresas que lhe permitissem manter o direito autoral dos manuais que escrevia em suas consultorias. Inicialmente revendeu esses manuais para outros clientes, mas em 1985 resolveu distribuí-los ao público. Os volumes eram finos — apenas 80 páginas, grampeadas —, mas isso os tornava mais interessantes para os consumidores do que os grandes e caros manuais que já existiam. Já no final dos anos 80, O’Reilly tinha certeza de que seus clientes de consultoria iriam querer seus manuais disponíveis nas telas de computador como livros eletrônicos, e ele e Dougherty começaram a pesquisar maneiras de fazer isso acontecer. A pesquisa os levou a vários desenvolvedores de software que trabalhavam para exibir gráficos on-line, em oposição ao sistema de texto simples que já existia na internet.

Em 1992, O’Reilly publicou The Whole Internet User’s Guide & Catalog e, no último minuto, acrescentou um capítulo sobre a World Wide Web. Na época havia cerca de 200 sites, nenhum deles operado por empresas. O’Reilly contratou o ex-diretor de ativismo da ONG Sierra Club e criou uma campanha que tratava a adoção da internet como o esforço para salvar as florestas tropicais. Enviou cópias do livro para todos os membros do Congresso dos EUA e depois fez uma turnê de divulgação por Nova York e Washington. “Eu dizia: ‘A internet está vindo; a internet está vindo’”, conta. E a O’Reilly Media tinha o único livro capaz de explicar isso para as pessoas.

The Whole Internet vendeu mais de um milhão de cópias, um resultado incrível para a pequena editora. Então, decidiram que uma boa maneira de comercializar The Whole Internet seria colocar quiosques com computadores nas livrarias para mostrar às pessoas o que era a internet. Infelizmente, não havia muito para ver na rede. Por isso, resolveram construir o primeiro site comercial do mundo. Tinha um design quadrado, diversas fontes, artes vistosas e publicidade. A principal atração era um diretório de sites úteis.

O Global Network Navigator, ou GNN, foi um “esquema maluco”, diz O’Reilly. Custou US$ 2 milhões — uma quantia enorme para uma empresa com receita de US$ 7 milhões — e comeu todos os lucros durante dois anos. Em 1994, a O’Reilly Media foi procurada por dois alunos de Stanford, Jerry Yang e David Filo, que precisavam de financiamento para seu nascente diretório da web, o Yahoo. Mas O’Reilly não pôde financiar o Yahoo. Ele mal tinha dinheiro para operar a GNN e, em 1995, negociou a venda do empreendimento para a AOL por cerca de US$ 14 milhões em ações e dinheiro. Um ano depois, a Yahoo entraria na Bolsa avaliada em cerca de US$ 300 milhões. Mas para a empresa “estilo de vida” de O’Reilly, tudo funcionou bem. Quando ele vendeu suas ações, saiu com cerca de US$ 40 milhões.

O’Reilly diz que às vezes se pergunta o que teria acontecido se tivesse dado a sua empresa a oportunidade de crescer. Mas ele parece mais se divertir do que ficar perturbado com a pergunta. “Dinheiro é como gasolina durante uma viagem”, diz. “Você não quer ficar sem gasolina, mas não está fazendo uma excursão pelos postos de combustível. Precisa prestar atenção no dinheiro, mas não deve pensar só nele.”

Hoje, a O’Reilly Media ganha mais dinheiro que nunca vendendo livros. A receita da companhia aumentou 20% em relação a 2000, quando o mercado de livros de informática atingiu o pico. Isso se deve em parte a um florescente negócio de conferências — o maior dos eventos da O’Reilly, “a Maker Faire”, uma espécie de Woodstock da turma do faça-você-mesmo, atraiu 70 mil participantes no ano passado — e graças também aos primeiros investimentos da empresa em livros eletrônicos. No auge do estouro das pontocom, O’Reilly lançou um serviço de assinaturas chamado Safari, que permitia que os usuários pagassem uma taxa mensal de US$ 42 para ler livros on-line. Convenceu sua maior concorrente, a Pearson, a financiar o projeto, que foi lançado como uma joint venture. O serviço contribui com mais receita para a O’Reilly Media do que as vendas de seus livros impressos nas lojas Barnes & Noble (só a Amazon representa um canal de vendas maior).

Outro avanço promissor foi o sucesso de livros vendidos como apps para iPhone. A O’Reilly oferece um punhado de seus livros como apps por US$ 5 — uma estratégia de preços agressiva, pois muitos livros custam US$ 15 no varejo para o Kindle e até mais na versão impressa, mas que recompensou plenamente, atraindo leitores de outros países, onde é difícil encontrar livros da O’Reilly. A companhia vendeu mais de 100 mil apps na App Store.



NEM TÃO ESOTÉRICO
Do ar... | nos anos 80, O'Reilly era um estudante do movimento Nova Era que decidira entrar no mundo dos negócios .

Matéria: PRGN

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