quarta-feira, 20 de julho de 2011

A nova geração de empresários que já aprendeu a ir até onde o cliente está – esteja onde estiver



Dos Estados Unidos à China, o mundo inteiro quer fazer parcerias com o Brasil. É a hora certa de sonhar alto e traçar estratégias para chegar longe, a exemplo do que estão fazendo empreendedores visionários de todas as partes do país. Pode apostar: abrir os horizontes da empresa é um ótimo negócio, mesmo para quem nunca pensou em sair de casa.
O delicado cultivo de uvas na pequena Bento Gonçalves, tradicional zona vinícola da Serra Gaúcha, interior do Rio Grande do Sul, passa pelas mãos da família Carraro há cinco gerações. Em 1883, quando o jovem italiano Antonio Carraro semeou suas primeiras parreiras, não constava em seus planos a possibilidade de, um dia, produzir um vinho capaz de rivalizar em qualidade com os euro-peus. Para ele, tornar-se fornecedor de uvas para as vinícolas da vizinhança já estava de bom tama-nho. Também não lhe passaria pela cabeça, àquela época, que seus tataranetos, os enólogos Julia-no, 30 anos, e Giovanni, 22, ao lado da irmã, Patricia, 32 — arquiteta por formação e empreendedo-ra por vocação —, seriam capazes de produzir e exportar vinhos para a Europa. Sim, para a Europa, onde estão os mais famosos tintos, brancos e rosés do mundo.

Um salto desse tamanho só foi possível porque os irmãos Carraro pertencem a uma nova geração que quer — e pode — pensar grande. Para levar o seu produto a 16 países, eles investiram na me-lhoria das técnicas de cultivo por seis anos consecutivos, equiparam-se com tecnologia de ponta, prospectaram mercados além-mar e conectaram-se a clientes em potencial independentemente de língua ou localização — algo impossível aos seus antepassados. “Esse era um sonho que só come-çou a tomar forma com meu pai, Lidio, e foi se tornando cada vez mais real, até se realizar com nos-so esforço”, diz Patricia Carraro, à frente de uma empresa que deve faturar R$ 2 milhões neste ano, 35% a mais que em 2010. “Queremos crescer ainda mais e conquistar novos clientes em mercados promissores, como a China, o Japão e a Índia”, diz ela, sem pruridos de sonhar cada vez mais alto.



AS EXPORTAÇÕES BATEM RECORDE | Após forte queda em 2009, as vendas ao exterior alcançam a marca de US$ 52 bilhões nos três primeiros meses do ano


MUNDO PLANO - A história de sucesso dos Carraro (contada em detalhes nas próximas páginas desta reportagem) é um caso modelar da expansão internacional das pequenas e médias empresas brasileiras. Há pouco mais de cem anos, os empreendedores só podiam assistir, de longe, ao que acontecia em outros países. Desbravar uma nova fronteira, naquela época, significava emigrar e es-tabelecer raízes, literalmente, como fez Antonio. Sem um horizonte virtual à vista, estar em um país e vender para outro era algo inimaginável. As informações trafegavam de forma bem mais lenta e havia dependência total das empresas em relação a produtores e distribuidores locais. Hoje, não mais. O desenvolvimento de tecnologias revolucionárias como a internet e a telefonia celular criaram plataformas que permitem diferentes formas de interação e inovação. Como bem anunciou Thomas Friedman, em seu festejado livro O Mundo É Plano – O Mundo Globalizado no Século 21, “... tudo isso achatou o mundo e fez de todos nós vizinhos. O mundo ficou plano e agora propicia uma nova era para que pequenas empresas sonhem, criem e vendam — não importa quão pequenas sejam”.

Atualmente, sete de cada dez empresas exportadoras do país são de micro, pequeno e médio por-tes, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Essa propor-ção, contudo, está longe de representar nosso potencial de crescimento, se levarmos em conta que 98% das empresas brasileiras estão inseridas nessas três categorias. A tendência é a mesma no franchising. Mais de 20 franquias se instalaram fora do Brasil nos últimos dois anos. Hoje, 69 redes estão presentes em 49 países. “Nos próximos dois anos, mais 12 marcas devem se internacionali-zar”, prevê, esbanjando otimismo, o diretor-executivo da Associação Brasileira de Franchising, Ri-cardo Camargo.

Os empreendedores brasileiros só começaram a pensar grande — e a se sentir capazes de competir de igual para igual — há pouco tempo. Um estudo feito em conjunto pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Universidade de São Paulo (USP), que teve por objetivo identificar o perfil da ‘nova multi-nacional brasileira’, mostrou que a atuação das pequenas e médias fora do território nacional é re-cente. “Na primeira fase, há cinco anos, não identificamos nenhuma empresa desse segmento. Mas, no ano passado, esses empreendedores já representavam 16% das 95 empresas pesquisadas”, diz a professora responsável pelo estudo, Maria Tereza Fleury. “Elas finalmente perceberam que po-dem, sim, atuar globalmente. E é muito bom que seja assim: ter uma presença internacional traz a-prendizado de gestão para qualquer negócio”, completa.


fonte: PEGN

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